22 de junho de 2005

Os protestos e a cidade

Angelo Poletto Mendes/Redação JC

Menos de um ano depois da primeira onda de protestos da história da cidade contra o reajuste das passagens do transporte coletivo, ocorrida em meados do ano passado, a capital catarinense enfrenta uma nova avalanche de manifestações contrárias à majoração das tarifas. Novamente liderados por segmentos estudantis, os protestos registrados neste ano foram ainda mais contundentes, nutridos pela inabilidade do governo municipal para enfrentar o problema, encontrando de outro lado uma reação das forças policiais de maneira bem mais enérgica do que no ano anterior, resultando por fim num clima de desordem e tensão geral na cidade.
Embora possa se questionar o modelo de protesto desencadeado pelo movimento estudantil, com o fechamento de avenidas e terminais de ônibus, que terminam por causar monumentais transtornos da vida do cidadão comum, é inegável que tem o novo governo municipal parte da culpa pela situação. Depois de prometer de forma ostensiva, durante a campanha eleitoral, que abriria a “caixa-preta” do transporte coletivo, o que pressupõe pelo menos a oferta pública de alguns dados sigilosos sobre o sistema, o novo prefeito chega ao sexto mês de sua administração sem uma resposta efetiva para a sociedade.
Não bastasse isso, decidiu o contestado aumento nos bastidores e determinou sua entrada em vigor para um domingo, repetindo a mesma prática da administração anterior. Para piorar, no momento em que se esperava uma postura conciliadora para arrefecer os ânimos dos manifestantes, deu uma infeliz entrevista a um jornal local, provavelmente sob o calor dos acontecimentos, que fortaleceu ainda mais o movimento de protesto. Essa sucessão de equívocos na questão do transporte coletivo vêm causando, sem dúvida, um nítido desgaste para o recém iniciado governo municipal.
Só que essa situação, certamente não interessa à maioria da população de Florianópolis, exceto a seus adversários e rivais políticos, porque a administração municipal não se resume ao transporte coletivo, embora seja esse talvez um de seus problemas mais delicados. O desgaste político do novo governo pode, por fim, causar prejuízos à toda a população da capital, porque tende a dificultar ainda mais a execução de suas inúmeras promessas acerca de obras públicas para a cidade, frustrando seus milhares de eleitores e a própria sociedade.