13 de abril de 2005

Futuro em jogo

Angelo Poletto Mendes/Redação JC

“À esposa do delegado não basta apenas ser honesta, ela precisa também parecer honesta”. Esse singelo ditado popular pode perfeitamente servir de exemplo para a Câmara de Vereadores reavaliar a forma como conduziu a retomada das discussões envolvendo o polêmico plano diretor do IPUF para a Planície Entremares. Projeto esse de vastíssima envergadura, com enorme impacto social e ambiental, que envolve interesses de pelo menos 40 mil pessoas que residem nessa região do Sul da Ilha de Santa Catarina.
Amplamente rejeitado pelas principais entidades comunitárias e ambientais e questionado pela maioria da população regional, o polêmico conjunto de projetos que compõem o plano elaborado por técnicos do IPUF no final dos anos 80 voltou subitamente à ordem do dia na Câmara, pouco mais de três meses após o início do novo governo municipal. Não bastasse isso, o presidente da Casa, Marcílio Ávila da Silva (sem partido), chegou a anunciar intenção de votá-lo em brevíssimo prazo, permitindo análise meramente simbólica por parte de seus pares no Parlamento municipal.
Embora seja crível que tamanha urgência do parlamentar na apreciação de tão vultoso projeto é norteada pela melhor das intenções, no sentido de efetivamente permitir um crescimento ordenado para a região, a pressa restritiva à participação popular põe em xeque a legitimidade do processo. Para que não se possa suscitar futuramente qualquer suspeita acerca da lisura do processo seria recomendável estabelecer e divulgar um amplo cronograma público de discussões antes da votação final do referido plano diretor.
O crescimento urbano experimentado pela região nos últimos anos é evidente e exige, efetivamente, a elaboração de um plano diretor para nortear seu futuro. Porém, é imprescindível que esse projeto seja auto-sustentável e respeite as características e a cultura regionais. Exemplos de equívocos monumentais na adoção de políticas urbanas existem a olhos vistos em outras regiões da Ilha, causando, entre outros danos, poluição de praias, escassez de água potável e a agonia da vizinha Lagoa da Conceição. Esse modelo, certamente, não deve ser o melhor para o Sul da Ilha.