7 de março de 2005

Transporte de visitantes à Ilha do Campeche divide barqueiros do Sul

Angelo Poletto Mendes/Redação JC

Dona de um importante acervo de inscrições rupestres e de uma riqueza natural exuberante, além de ser a única ilha oceânica do litoral catarinense dotada de praia, com cerca de 400 metros de extensão, a Ilha do Campeche recebe anualmente a visita de milhares de turistas de todo o país e até estrangeiros, que costumam se extasiar com o passeio por suas trilhas ou o simples banho de mar em suas águas límpidas, comparadas às praias do Caribe. Com uma área de 381 mil metros quadrados, delimitada por rochedos em suas extremidades, a Ilha fica localizada há cerca de 1,5 mil metros, em linha reta, da Praia do Campeche.
Apesar da proximidade com a praia homônima, desde o início de janeiro as embarcações que transportavam turistas à Ilha, com embarque nessa praia, estão paradas. Por determinação da Capitania dos Portos de Santa Catarina, os cerca de oito barqueiros que atuavam no Campeche, transportando turistas em barcos infláveis a motor, com fundo de fibra, estão proibidos de fazer o serviço. Segundo a Capitania, os motivos para o impedimento do serviço no Campeche seriam a ausência de um trapiche para o embarque dos passageiros e restrições ao tipo de embarcação empregado.
O presidente da Associação dos Barqueiros de Transporte da Praia do Campeche (ABTC), Marco Antônio Santos, que trabalha há cerca de cinco anos nesse tipo de serviço, contesta a decisão. Segundo ele, as embarcações usadas para a travessia cumpririam todos os requisitos básicos de segurança náutica. “Cada barco transporta no máximo quatro passageiros e mais dois tripulantes, só operamos com bandeira verde ou amarela, ou seja quando o mar está calmo, e todos os passageiros usam colete salva-vidas”, comentou Santos, ressaltando que testes navais comprovaram ainda a estabilidade do tipo de embarcação empregado no Campeche.
Segundo o barqueiro, por trás da decisão existiria ainda interferência política, com intuito de favorecer os barqueiros da Armação, que têm a maior cota de transporte de passageiros para o local. Acordo firmado entre a Capitania dos Portos, Clube Couto de Magalhães (que administra a Ilha), Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan), Procuradoria da República e barqueiros impõe o limite de 800 visitantes diários à Ilha. “Como o Campeche está bem mais próximo da Ilha e o acesso é mais rápido, eles temiam que acabássemos com o movimento deles e lotássemos a Ilha, mas isso nunca aconteceu”, afirmou Santos.
O dirigente vê ainda contradições na decisão. “Temos fotos de um serviço que sai do Pântano do Sul, onde também não tem trapiche, indo até a Lagoinha do Leste, em mar de nível 2, igual ao mar daqui, em que feita até baldeação de passageiros em cima da arrebentação, passando os passageiros de uma baleeira para o bote inflável e seguindo até a praia”, relata. “O pessoal da Armação não denuncia isso porque eles tem um acordo com os barqueiros do Pântano; eles não levam ninguém para a Lagoinha do Leste e os barqueiros do Pântano não levam ninguém para a Ilha do Campeche”, denuncia. Apesar de tudo, o barqueiro acredita que na próxima temporada o serviço será liberado no Campeche. “Estamos mantendo reuniões com a Procuradoria da República e a Capitania, que tem se mostrado mais sensível ao nosso pleito”.