Primeiro quero esclarecer uma coisa: essa crítica dedica-se somente ao filme como espetáculo de arte, não a idéias que possam ou não ter sido passadas; se o filme é ou não anti-semita, não me interessa nem um pouco, até porque não acredito que um filme de ficção, baseado ou não em fatos reais possa vir a modificar o mundo em que vivemos. Como filme, Mel Gibson realizou uma obra interessante, mostrou as últimas 12 horas da vida de Cristo de uma forma que ainda não havia sido mostrada, com extrema violência, mas com um grande trunfo, falado em aramaico e latim, o filme cria um tom mais realista do que um Cristo falando em inglês. Apesar de toda a polêmica que se criou, Gibson fez uma obra convencional e até mesmo, tradicional. Em nenhum momento inova na linguagem narrativa, ao contrário, a maioria das passagens mais famosas da crucificação estão ali. O problema é que como o filme trata praticamente da via crucis, fica difícil para os não iniciados entenderem porque tamanha brutalidade. Na parte técnica, o maior destaque fica por conta da fotografia de Deschanel. Interpretar Jesus Cristo, sempre é complicado, mas pelo menos nisso, não houve muita polêmica, o ator Jim Caviezel atua com dignidade. Quanto ao fato do filme procurar achar culpados pela morte de Cristo, sou sincero em dizer, um dos filmes mais belos que vi sobre a vida de Cristo foi Jesus de Nazaré (minissérie dirigida por Franco Zefirelli) e não consegui achar tanta diferença assim na narrativa dos dois filmes, além da forma como foram mostradas as cenas. Em relação à polêmica, o resultado maior está na bilheteria, nada melhor para um filme do que uma proibição. Como obra cinematográfica, é muito interessante, nada mais que isso, quanto a posições teológicas, deixo isso para quem entende do assunto. (DILSON FRANTZ)
24 de agosto de 2004