Angelo Poletto Mendes/Redação JC
Passado o período de turbulência que assolou a cidade, provocado pela onda de manifestações contrárias ao reajuste das tarifas do transporte coletivo da capital, é importante que a sociedade faça uma análise dos episódios à luz da razão para tentar compreender com mais clareza os motivos que o desencadearam. Embora muitos insistam em torcer o nariz para o movimento contestatório, tentando encontrar razões pouco lisonjeiras para sua motivação, é incontestável que, pelo alcance de sua mobilização e a consecução dos objetivos, representou um legítimo exercício da cidadania.
Sem querer aqui relevar os excessos e radicalismos, que são condenáveis em qualquer circunstância, ficou nítido desde o primeiro dia que a objetivo central dos protestos era, sem dúvida, o alto valor das tarifas do transporte coletivo. Mesmo que possa ter havido a infiltração de alguns aproveitadores políticos, é difícil crer que um movimento de tal amplitude possa ter sido manipulado por forças alheias ao interesse maior de contestar os preços das passagens de ônibus.
A grande imprensa, salvo algumas exceções, discriminou o movimento. Num primeiro momento, tentando minimizar o seu alcance, depois difundindo matérias que apontavam a obtenção do polêmico passe-livre como objetivo principal dos protestos e, finalmente, reduzindo as manifestações a “uma ação de baderneiros”. A Prefeitura, de quem deveria se esperar uma conduta conciliadora, manteve uma postura intransigente, rejeitando de forma taxativa a revogação dos reajustes.
Coube, felizmente, à seccional catarinense da OAB a grandeza de perceber a gravidade da situação e impetrar ação judicial pleiteando a revogação dos reajustes das tarifas. A liminar determinando a retroação nos preços das passagens, anunciada na noite do dia 7 de julho, abortou a realização de uma grande manifestação marcada para acontecer no dia seguinte, no centro da cidade, de proporções imprevisíveis. Embora tenham causado inegáveis transtornos para grande parte da população, as manifestações lideradas pelos estudantes não podem ser ignoradas e se inscrevem para a história como um novo e importante capítulo no exercício da cidadania em Florianópolis.